A aventura humana no espaço teve início 50 anos atrás
A Terra é azul
No dia 12 de abril de 1961 começava a era dos vôos espaciais humanos quando o soviético Yuri Alekseyevich Gagarin (1934-1968) se tornou o primeiro homem a ir ao espaço. Gagarin viu algo que nenhuma outra pessoa na história havia observado antes: a própria Terra. “A Terra é azul”, foi a frase histórica de Gagarin, quando se encontrava a uma altitude de 300 quilômetros.
Durante o vôo, Gagarin não pode operar os controles de sua nave porque o ambiente de microgravidade só havia sido testado em animais, e os técnicos não sabiam seus efeitos sobre o homem. A missão foi inteiramente controlada pelo centro de controle em terra – a única coisa que Gagarin tinha ao seu dispor era um “botão de pânico” em caso de alguma emergência.
Corrida espacial
No início de 1961, o astronauta norte-americano Alan Shepard vinha treinando para um voo sub-orbital em um foguete Mercury-Redstone, previsto para decolar em maio daquele ano. Os soviéticos não estavam cientes da data do lançamento, mas Sergei Korolev, o cientista-chefe do programa espacial soviético, temia que os Estados Unidos saíssem na frente e pressionou para que o lançamento se desse o quanto antes. Na manhã de 12 de abril de 1961, Gagarin, de 27 anos, aguardava para ser lançado ao espaço do alto de uma plataforma de 30 metros na região de Tyuratam, no Cazaquistão, hoje conhecida como o Cosmódromo de Baikonur. Quando o foguete decolou, às 9h07 do horário local, Gagarin teria dito “‘Poyekhali” ou “Lá vamos nós”.
Com 1,57 metro de altura, Gagarin estava em melhores condições do que muitos para tolerar o aperto de sua cápsula espacial.
Ele se alimentava apertando tubos contendo alimentos líquidos e mantinha os controladores de sua missão a par de seu paradeiro por meio de um rádio de alta frequência e de uma chave de telégrafo.
Fim da missão
Nos 108 minutos entre o lançamento e seu retorno à superfície, a nave Vostok 1 pôs o cosmonauta no espaço e imediatamente na história. Quatro anos antes a então União Soviética havia lançado o primeiro satélite, o Sputnik. Depois, o primeiro animal, a cadela Laika. Com o primeiro homem, a corrida espacial parecia ganha logo após ter começado, restando aos Estados Unidos ambicionar chegar primeiro à Lua, o que conseguiram em 1969. Mas em abril de 1961 a notícia era Gagarin, uma celebridade internacional instantânea. O próprio sucesso da missão, para desilusão do primeiro astronauta terrestre, marcou também o fim de sua carreira no espaço: em uma época em que heróis e propaganda política eram elementos essenciais para um governo ditatorial, arriscar a vida de Gagarin em outro voo espacial seria impensável. Ele teve que se contentar com os aviões MIG, dentro de um dos quais morreu, com apenas 34 anos de idade, depois de passar boa parte dos sete anos desde o seu feito histórico em viagens pelo mundo como herói do regime soviético.
Quase insucesso
Só mais tarde veio à tona o fato de que a missão por pouco não foi um desastre. Cabos que ligavam a cápsula da nave espacial ao módulo de serviço não conseguiram se separar antes do reingresso de Gagarin na órbita terrestre. Por isso, a cápsula de Gagarin acabou sobrecarregada por um módulo extra ao reingressar na atmosfera da Tera. As temperaturas dentro da cápsula se tornaram perigosamente elevadas, e Gagarin por pouco não perdeu a consciência, após a cabine ter girado violentamente. “Eu estava dentro de uma nuvem de fogo, me dirigindo para a Terra,” o cosmonauta depois recordou. Foram precisos dez minutos para que os cabos finalmente se soltassem e que o módulo de descida, contendo o passageiro, se libertasse. Gagarin saltou de pára-quedas antes de sua cápsula atingir o solo, pousando perto do rio Volga.
Astronauta operário
A imagem do sorridente cosmonauta virou propaganda máxima de um país e um regime que lutava para vencer a pobreza ao mesmo tempo em que disputava a liderança política mundial com os Estados Unidos. Yuri Gagarin foi um dos 20 cosmonautas selecionados para o programa espacial soviético, em 1960. A lista de 20 aspirantes foi finalmente reduzida para dois: Gagarin e o piloto de teste German Titov. Alguns acreditam que a origem humilde de Gagarin contribuiu para que ele fosse o escolhido. Enquanto Titov teve uma criação de classe média, Gagarin era filho de operários. Os líderes soviéticos podem ter encarado isso como uma demonstração de que, sob o comunismo, até mesmo os representantes de famílias mais humildes poderiam ser bem-sucedidos. Mas outros defendem que o desempenho do cosmonauta durante o processo de seleção foi um fator muito mais importante. Poucos se lembram de Alan Shepard ou Scott Glenn, que subiram ao espaço em seguida, mas Gagarin foi tão popular a ponto de o nome Yuri ser preferido para batizar legiões de meninos pelo mundo nos anos seguintes, inclusive no Brasil. Gzhatsk, a cidade em que ele passou boa parte de sua infância, foi até mesmo rebatizada como Gagarin.
Gagarin no Brasil
Gagarin esteve no Brasil no mesmo ano de sua viagem espacial, no fim de julho e início de agosto, quando foi recebido por multidões em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na época, não havia relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética, o que não impediu que ele fosse saudado como herói. O filho de fazendeiros recebeu do então presidente Jânio Quadros a Ordem do Cruzeiro do Sul, concedido a personalidades estrangeiras.
Fonte: Inovação Tecnológica